A pior forma de ver sexo

On 7 de novembro de 2012 by Max Valarezo

Se enganam quando dizem que a mais miserável das experiências audiovisuais é o medo que se sente ao ver filme de terror, a agonia nas entranhas com cenas de suspense ou então o simples ato de ver qualquer filme da Xuxa. Não, nada disso se compara ao embaraço e à sufocante desorientação que nos abatem quando vemos uma cena picante com os pais do lado.

Até certa idade, somos pequenos demais em nossa inocência infantil para reconhecer o que está passando na tela como um selvagem ato sem pudor. Mas, uma vez que os coleguinhas do colégio te explicam como de fato os bebês surgem (ou se seus próprios pais tiveram a conversa com você), não tem como não passar vergonha quando seus progenitores estão ao seu lado enquanto passa um rala-e-rola na frente de seus embaraçados olhos.

“Puxa, pai! Esse filme da Xuxa é muito diferente, qual é o nome mesmo?” – “É ‘Amor, Estranho Amor’, querida”.

Nossa reação depende, logicamente, da intensidade da pouca-vergonha testemunhada. Um par de peitinhos à mostra pode apenas causar leve rubro nas bochechas. Um casal nu se beijando pode te dar vontade de enterrar a cabeça entre as almofadas do sofá, à moda avestruziana. Agora, se for uma explícita fornicação repleta de gemidos, você começa a pensar se não vale a pena levantar repentinamente e começar a dançar É o Tchan na frente da TV, pois até isso seria menos vergonhoso do que ficar sentado e seguir assistindo.

Certamente isso aconteceu diversas vezes comigo. Mas, curiosamente, me lembro de poucos exemplos. Um dos mais marcantes foi a cena de Máquina Mortífera 2 em que o Riggs (Mel Gibson) leva a bela Rika (Patsy Kensit) para sua humilde residência e os dois dão início à indecência, apesar da presença do cão de Riggs logo ao lado. Legal, é o outro tipo de ação que moleque adora ver em longas de ação. O problema é que, na primeira vez em que vi a cena, estava com meu pai e devia ter uns 7 anos. Logicamente, não deu pra vislumbrar a nudez da Patsy Kensit de forma apropriada, por conta do embaraço. Alguns meses atrás, revi o filme com meu velho e posso dizer que a aflição foi praticamente a mesma.

Felicitaciones, Patsy Kensit, eres muy Rika (TUDUM TSHHHH)

Mas não só ao cinema isso se aplica. Lembro bem que, quando mais novo, eu assistia ao Disk MTV (programa das músicas mais pedidas) quase todos os dias. Em 2000, um dos videoclipes de maior sucesso era Music, da Madonna. Ele é divertido, tem toda uma sequência em animação e ainda conta com a participação de Sacha Baron Cohen (o Borat, sabe?) interpretando seu personagem Ali-G.

Porém, lá no final, tem um momento em que a Madonna entra em um clube de striptease e fica se esbaldando, enquanto uma stripper se sacode na frente dela como quem quer expulsar alguma entidade maligna de suas partes íntimas. O problema era que, muitas vezes, meu pai já havia chegado em casa e assistia ao programa comigo. Por isso, toda vez que passava o lascivo clipe da Madonna, eu assistia a tudo normalmente e, quando chegava a cena do clube de strip, de repente ia pra janela e demonstrava um interesse sobre-humano no poste de luz na rua em frente.

Sem contar também as canções que fazem uma sacana poesia com a letra. Rapaz, não era nada fácil estar no carro com a minha mãe e, do nada, começar a tocar Totalmente Demais. Acompanhem a letra:

Sabe sempre quem tem
Faz avião, só se dá bem
Se pensa que tem problema
Não tem problema
Faz sexo bem

“FAZ SEXO BEM”, meus amigos! Isso lá é coisa pra se ouvir com a mãe do lado?

Como no caso do clipe da Madonna, desenvolvi uma tática para evitar o embaraço quando a canção tocava: bastava fazer qualquer classe de barulho que cobrisse o indecente verso. Às vezes era um acesso de tosse, um sonoro bocejo, ou então eu simplesmente perguntava pra minha mãe se eu podia ter um tucano de estimação. Qualquer coisa que tirasse a concentração dela, pra que minha boa mãezinha não soubesse que a menina da canção fazia sexo bem.

Lógico que, quando crianças, bolamos planos mirabolantes e esquecemos das soluções mais fáceis, o que explica nunca ter passado pela minha cabeça a simples saída de mudar a estação de rádio.

Pior é pensar na possibilidade de isso acontecer comigo se um dia eu tiver filhos! A chance de eu não saber como agir e piorar a situação é grande. É como na vez em que eu era pequeno e estava vendo A Senha – Swordfish. A certa altura, meu irmão menor chegou no meio para assistir ao filme comigo. Quando veio a cena em que a Halle Berry está tomando sol de topless, fiquei sem saber o que fazer, uma vez que meus pais provavelmente me dariam uma bronca se chegassem e me vissem passando filmes com mulheres nuas pro meu irmãozinho. No pânico do momento, o que eu fiz? Logicamente, a pior solução possível: pausei, deixando a Halle Berry ali, parada com os peitos de fora por um bom tempo, até eu entender a burrada.

Não precisa me agradecer, querido irmão.

 

Halle Berry como Bond Girl: nada mal.

Recomendação de leitura:

Um dos causos mais constrangedores que já vi envolvendo filme, família e sexo é o deste blogueiro aqui. Recomendo pelo alto nível de vergonha alheia.

Sintam-se livres também para comentarem contado suas histórias, pra que todos possamos dar boas risadas dos nossos traumas de infância juntos.

3 Responses to “A pior forma de ver sexo”

  • Joao Diniz

    Quando eu era menor, com medo do que pensariam se me pegassem desviando o olhar de uma bela mulher se esbaldando e esfregando em tudo na TV, a situação se tornava ainda mais constrangedora: numa tentativa infeliz de parecer natural, eu ficava completamente vidrado em algum ponto morto da imagem, com olhos imóveis. Acho que até hoje meu pai pensa que sou um taradão.

  • Laura Tizzo

    A gente cresce crente de que o problema do constrangimento pela indecência alheia vai desaparecer, mas é um engano. A coisa só muda de figura. No caso, além dos pais – ao lado dos quais ainda não consigo assistir a cenas do tipo – o tempo agregou também os “peguetes”. Uma das situações mais embaraçosas é estar acompanhado de algum “affair”, alguém com quem você eventualmente não fez sexo assistindo a um filme, por exemplo, e a indecência começa na tela. Encarno a estátua na hora, na esperança de que a pessoa pense que na minha mente não está se passando nada e que eu nem cheguei a ver, de fato, a cena.

  • Andréia Miguens

    Nunca esquecerei uma cena específica de Game of Thrones que assisti com meus pais. O Mindinho treinava duas prostitutas no bordel dele. A cena foi entre elas e deve ter durado uns 4 minutos, os mais longos da vidaa.

Deixe uma resposta para Laura Tizzo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *