Aonde o poder nos leva

On 20 de agosto de 2012 by Max Valarezo

Imagine que você está caminhando pela rua tarde da noite, sem ninguém por perto. Então chega um ladrão e te assalta. Pense em qual seria a sua reação. Pronto? Ok, agora imagine o mesmo cenário, mas com uma diferença: você tem poderes telecinéticos, ou seja, consegue mover objetos apenas com o pensamento.

E agora? Como seria a sua reação? Usaria seus poderes para simplesmente afastar o ladrão? Derrubaria a arma dele? Quem sabe você tivesse um pouco mais de audácia e quisesse fazer mal ao meliante. Você quebraria a perna dele, por exemplo? Assim ele não poderia te seguir, afinal de contas. Danificaria a mão dele? Ou iria mais longe, fazendo com que o coração dele parasse de bater?

 

Diferentes histórias, mesmo tema

Saber os limites do poder e ponderar as ações quando se pode fazer algo incrível é tema de diferentes histórias presentes no cinema, na literatura ou nos quadrinhos. Sim sim, toda aquele discurso de grandes poderes e grandes responsabilidades que o tio de certo super-herói aracnídeo imortalizou.

O recente Poder Sem Limites (Chronicle, 2012) é um bom exemplo do que quero dizer. O filme narra a história de três adolescentes que ganham poderes telecinéticos uma noite ao explorar uma espécie de caverna. Com o avançar da história, vemos como eles vão fazendo brincadeiras no dia-a-dia, aproveitando as novas habilidades. Mas a diversão começa a sumir quando um deles passa a abusar dos poderes e a usá-los da forma errada.

 

Conversando sobre esse filme com um amigo outro dia, ele reparou na semelhança entre as histórias de Poder Sem Limites e de Akira, clássico do mangá e da animação japonesa. E, de fato, a premissa é basicamente a mesma. Em Akira, vemos uma gangue de motoqueiros em uma Tóquio futurista, liderada por Kaneda. Porém, um dia, Tetsuo, um dos membros do grupo e amigo próximo de Kaneda, ganha poderes telecinéticos (quem diria) e começa a enlouquecer. Tetsuo muda de comportamento e se torna então um perigoso vilão, sem medo de utilizar as novas habilidades para eliminar quem entre em seu caminho.

 

Voltando mais ainda no tempo, podemos encontrar a mesma história em um dos primeiros episódios de Star Trek (1966), chamado Charlie X. Nele, a Enterprise recebe a tarefa de transportar em segurança para a Colônia 5 o adolescente Charlie, que havia crescido sozinho e isolado de qualquer contato humano no planeta Thasus desde os três anos de idade. Por conta disso, Charlie não sabe como interagir de forma apropriada com a tripulação ou lidar com os próprios sentimentos (os quais, convenhamos, conseguem ser bem exacerbados quando se é adolescente). À medida que Charlie começa a se sentir desajustado, ele passa a usar seus poderes mentais (surpresa!) para tomar controle sobre a tripulação da nave.

 

Mais ou menos como na vida real

Por mais que seres telecinéticos pertençam à ficção, a questão de como lidamos com nossos poderes no cotidiano é muito concreta. Como exemplo, basta pegar a situação fictícia com que abri este texto e substituir os poderes mentais por, digamos, habilidades de artes marciais.

Já ouvi mais de uma vez amigos meus afirmarem que preferem não aprender algo como kung fu ou karatê por acharem que não seriam capazes de se controlar em situações de tensão. “Se eu arranjasse uma briga no trânsito, com certeza me sentiria mais confiante pra partir pra cima do cara só por saber lutar”, me disseram uma vez.

Mas quando se pensa assim, deixa-se de lado ou se esquece que o autocontrole é um dos princípios básicos de praticamente toda arte marcial. É por isso que são chamados de métodos de autodefesa: a luta é o último recurso que se deve utilizar. Se te atacam, você sabe como reagir. Não importa se você sabe desferir um roundhouse kick que deixaria Chuck Norris orgulhoso, meu filho. Acredite, é mais fácil conseguir esse selo de aprovação aqui quando se esfria a cabeça e não se abusa dos socos e pontapés.

Que tal treinar o autocontrole?

 

E quantas outras formas de poder individual temos no nosso dia-a-dia? A informação, por exemplo, também pode causar estragos. Basta pensar naquele segredo obscuro que você sabe sobre alguém. Transformar esse tipo de conhecimento algo público pode arruinar reputações. E com esse tipo de poder também se deve ponderar como agir. Por exemplo: é realmente importante revelar o podre de alguém? Afinal, uma coisa é saber que um policial tem ajudado o tráfico de drogas no seu bairro. Outra é saber que o seu chefe anda traindo a esposa. O que pode acontecer se você gritar aos quatro ventos o que sabe em cada uma dessas situações é muito diferente.

Ainda dá pra pensar em outras formas de poder cotidiano que temos, como o dinheiro ou a influência sobre as pessoas próximas. O problema é não saber como se utilizar dessas ferramentas, o que pode gerar uma baita dor de cabeça pra muita gente. Como vimos, a ficção está aí nos mostrando constantemente os problemas que podem surgir quando não se sabe usar da forma apropriada aquilo que te dá poderio.

Enfim, sabe como é: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e tals.

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