Cadê meu clube?

On 28 de agosto de 2012 by Max Valarezo

Pode não ser muito evidente o que levaria um aluno de direito, outro de medicina e um de letras a se engajarem em um projeto de universidade que não fosse apreciação da vida mole ou então movimento estudantil. No caso desses três alunos, o que os unia era o Footlights, o clube de teatro da Universidade de Cambridge, onde tinham a oportunidade de escrever seus próprios esquetes cômicos e de dar vazão à vontade de interpretar.

Esses três eram, respectivamente, John Cleese, Graham Chapman e Eric Idle, futuros membros do Monty Python, o maior grupo de humor britânico que caminhou (de forma bem boba) sobre a Terra.

Os três de pé, da esquerda pra direita: Eric Idle, John Cleese e Graham Chapman, nas filmagens do filme “O Sentido da Vida”.

Sempre achei atraente a ideia de “clubes” que te permitam explorar seus diferentes interesses. Aparentemente, isso é algo comum no exterior. Se lembrarmos dos programas de televisão estadunidenses cujas histórias acontecem em colégios, podemos notar os diferentes clubes retratados: o do livro, o de xadrez, o de teatro ou até a banda da escola. Foi reparando nesses exemplos que cheguei à conclusão: precisamos um pouco mais dessa cultura do “reúnam-se e façam algo legal” onde estudamos.

O primeiro benefício que percebo é incentivar alunos a participarem de outros projetos não necessariamente ligados a suas áreas de estudos. Um tempo atrás, por exemplo, eu mesmo queria treinar mais a escrita ficcional, tipo de texto não muito abordado no curso de Jornalismo. Deixei a ideia um pouco de lado hoje, mas, na época, me lembrei dos Footlights e desejei que existisse um clube de escrita criativa na minha universidade. Não que participar de um grupo desses seja essencial para criar histórias, mas assim estaria cercado de outras pessoas engajadas em praticar o texto criativo. Seria mais motivação, mais gente para debater ideias, mais olhos pra apontar mancadas ou acertos. Enfim, mais aprendizado.

O segundo ponto positivo que vejo é a possibilidade dos clubes servirem como incubadora de talentos, dando chance para que jovens explorem suas diferentes habilidades. Como exemplo, voltemos aos Footlights. Além dos Pythons citados na abertura deste texto, o clube formou também gente como Douglas Adams (autor da série de livros O Guia do Mochileiro das Galáxias), Stephen Fry (comediante, ator, escritor e um dos caras pra quem mais pago pau) e Hugh Laurie (sim, o Dr. House). O ator que faz o rabugento médico inclusive chegou a ser presidente do clube em 1981.

Mas para não dizer que apenas falei desse grupo, podemos citar também o Oxford Revue, o clube de teatro de Oxford (não diga), por onde passaram Terry Jones e Michael Palin, também do Monty Python, além de Rowan Atkinson, o adorado Mr. Bean. Ou seja, temos todos esses futuros comediantes incríveis, se dedicando semanalmente a escrever suas peças e praticando a arte de fazer rir. Como teria toda essa galera se saído na vida se não tivessem tido a oportunidade de exercitar seus talentos durante a universidade?

Mas, além disso tudo, acredito que, se tivéssemos mais desses grupos organizados nas nossas instituições de ensino, estaríamos oferecendo aos alunos a oportunidade de terem uma formação mais completa. Nem todos, afinal, sentem-se motivados a participar de um projeto de extensão (que fazem a universidade dar mais retorno à comunidade) ou então de uma Empresa Júnior, onde alunos trabalham com clientes reais, mesmo ainda dentro da faculdade. Os clubes poderiam ser uma solução mais lúdica para que estudantes se engajassem em algo fora da sala de aula, aproveitando ainda mais a experiência de estar em uma universidade, o local  dos conhecimentos diversos e reunidos por excelência.

 

 Quem já faz tudo isso

Não poderia eu defender a criação de mais grupos extraclasse sem citar aqueles de que já ouvi falar na UnB, minha universidade. Sei, por exemplo, do Coro Sinfônico Comunitário, o qual já chegou a se apresentar em Nova York em 1994! Há também, evidentemente, os grupos de estudos, como o que pratica o desenho de modelos vivos, ou então o de análise do livro Ulisses, de James Joyce, dentre muitos outros. Há também equipes de engenharia que projetam e criam veículos, para em seguida participarem de competições com seus projetos. Conheço, principalmente, a Draco Volans, equipe de aerodesign, e os Piratas do Cerrado, que trabalham com bajas (carros de estrutura tubular para off-road).

Aproveito e pergunto: quais tipos de clube você acharia interessante de ver na sua instituição? De quais você participaria? Eu, particularmente, gostaria que tivéssemos na UnB um de escrita criativa, como disse antes, e um de astronomia. Logicamente, estou correndo aqui o risco de fazer papel de ignorante e não saber que eles já podem existir. Se for o caso, por favor, me avisem, para que eu possa conferir. Assim, quem sabe, posso aprender a escrever melhor. E se não der certo, deixo pra lá e vou ver estrelas mesmo.

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