Como Chico Buarque venceu nas Olimpíadas

On 26 de julho de 2012 by Max Valarezo

 

Todos sabem como funciona o triatlo. Trata-se de uma competição que testa a pessoa em três modalidades diferentes. Nas Olimpíadas daquele ano, o triatlo foi algo lindo, de tirar o fôlego (inclusive dos espectadores). O grande vencedor, o francês Antoine Lidrec, conseguiu o impensável durante a prova. Na primeira etapa, concluiu um inovador conto de realismo fantástico em menos de duas horas, com narrativa não-linear e estruturas sintáticas pouco ortodoxas. Na segunda parte, esculpiu uma impressionante escultura representando um francês chorando de joelhos, após perder o emprego (segundo o júri, a obra conseguiu traduzir o sentimento de fragilidade que assola toda a Europa, por conta da crise econômica). Por fim, na terceira etapa, ele compôs uma sonata que trazia em sua sonoridade elementos do melhor da obra de Vivaldi. Lidrec recebeu o ouro e foi logo aclamado como o futuro do desporto.

Não se desespere, leitor(a), você não está completamente por fora das notícias do mundo esportivo. A cena é totalmente fictícia. Não existe o promissor talento Lidrec. E explicar que o triatlo na verdade não funciona bem assim seria insultar sua inteligência.

Não senhores, a cena é irreal. Aliás, irreal no mundo de hoje. Afinal, de 1912 a 1948, as Olimpíadas tinham sim modalidades artísticas, como literatura, escultura, arquitetura e música. É bem verdade que elas não eram nada como o primeiro parágrafo, mas não deixa de ser um fato bem interessante.

Mas havia certas estranhezas na área artística das Olimpíadas. Por exemplo, os jurados não eram obrigados a dar as três medalhas em todas as modalidades. Isso quer dizer que havia competições com apenas um vencedor. Mas, curiosamente, nem sempre esse recebia o ouro. É o caso do compositor tchecoslovaco Josef Zuk, que, apesar de ter sido o único vencedor na categoria “Música Mista” em 1932, recebeu a medalha de prata.

“Tô de boa, antes ganhar a prata sozinho do que ganhar a prata perdendo pra outro” – Josef Zuk

Aliás, o próprio Pierre de Coubertin, o criador das Olimpíadas Modernas, já ganhou uma medalha de ouro em “Literatura Mista” na competição de 1912, por um poema submetido por ele sob os pseudônimos de Georges Hohrod e Martin Eschbach, intitulado Ode ao Esporte.

Ao descobrir isso, não pude deixar de imaginar como seria uma competição olímpica atual, com grandes nomes do entretenimento se digladiando para receber os louros da vitória artística.

E é lógico que a divagação destrambelhou pra besteira.

“Bando de juiz trouxa, nem imaginam que eu que escrevi aquele poeminha rsrsrsrs” – Pierre de Coubertin

Competição: Performance Musical Ao Vivo

O primeiro competidor a comparecer seria ninguém menos que o U2. Bono chegaria sendo ovacionado e, aproveitando que o mundo inteiro estaria assistindo, começaria a discursar sobre a união dos povos no mundo moderno e como a compaixão entre as nações pode salvar a humanidade. A comissão de jurados, porém, desclassificaria a banda assim que o discurso de abertura do músico completasse uma hora de duração.

Em seguida, viria Lady GaGa. Antes que ela pudesse começar a primeira música, também seria desclassificada, por estar usando um vestido feito com as peles dos animais de estimação dos jurados.

O terceiro seria Chico Buarque, representando a delegação brasileira. Após terminar sua apresentação, ele seria automaticamente escolhido o vencedor, com o júri optando por ignorar sumariamente o restante dos concorrentes. Afinal, todo mundo adora amar o Chico.

Com 30 segundos de apresentação, Chico já estava definido como o vencedor

Competição: Roteiro de História em Quadrinhos

O primeiro competidor a mostrar seu trabalho seria Alan Moore, o aclamado e surtado roteirista britânico, autor de Watchmen. Porém, seu trabalho inédito narrando a história de uma seita de assassinos que matam esquilos alienígenas capitalistas para depois usar a pele dos roedores como estilosas meias de inverno causaria estranhamento demais nos juízes. Nada de medalha para o senhor Moore.

Em seguida viria o brasileiro Laerte, com uma tira complexa demais para os jurados entenderem. Esses, porém, aplaudiriam de pé, tentando não demonstrar a confusão. Ficaria subentendido que Laerte seria o grande candidato ao ouro.

A tira incompreendida pelos jurados que os mesmos amaram

O resultado pareceria certo, vitória suprema do brasileiro Laerte. Porém, Chico Buarque, aproveitando que estava nas redondezas, decidiria se sentar por cinco minutos e escrever um roteiro também.

Ouro para o Chico, nada para o resto.

 

Modalidades de competência física musical

Outro tipo de competição legal de se ver seriam as possibilitadas pelos shows ao vivo, que envolvem grandes feitos físicos por parte dos artistas. Por exemplo:

1) Luta com Guitarra em punhos

O vencedor seria, sem dúvidas, Keith Richards, dos Rolling Stones.

 

2) Saltos e giros com guitarras

Ouro para os integrantes do Story  of The Year. Assistam com atenção aos últimos 30 segundos do vídeo para entenderem bem do que falo.

 

3) Mosh/Crowdsurfing (se joga na plateia, meu filho)

Por unanimidade do júri, o grande campeão seria Wayne Coyne, do Flaming Lips, com sua bola gigante de plástico. Pode pular para os 30s de vídeo, o que tem antes é só enrolação.

 

Deixo aqui meu apelo ao Comitê Olímpico Internacional para que as artes voltem a ser modalidades na competição. Primeiro, porque os artistas excêntricos de hoje causariam situações estapafúrdias que aumentariam a audiência. Além disso, seria uma forma de atrair todos aqueles que não conseguem prestar atenção em esportes nem por decreto. Desde que o Chico fique de fora, tá todo mundo feliz.

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