Coletânea

Os célebres na companhia dos notáveis

On 11 de novembro de 2012 by Max Valarezo

Em um trecho do conto “Me alugo para sonhar”, Gabriel García Márquez narra uma tarde na companhia do poeta chileno Pablo Neruda, da esposa desse, Matilde, e de Frau Frida, uma mulher que alegava ter sonhos que mostravam o futuro.

Às três, nos separamos dela para acompanhar Neruda à sua sesta sagrada. Foi feita em nossa casa, depois de uns preparativos solenes que de certa forma recordavam a cerimônia do chá no Japão. Era preciso abrir umas janelas e fechar outras para que houvesse o grau de calor exato e uma certa classe de luz em certa direção, e um silêncio absoluto. Neruda dormiu no ato, e despertou dez minutos depois, como as crianças, quando menos esperávamos. Apareceu na sala restaurado e com o monograma do travesseiro impresso na face.

– Sonhei com essa mulher que sonha – disse.

Matilde quis que ele contasse o sonho.

– Sonhei que ela estava sonhando comigo – disse ele.

– Isso é coisa de Borges – comentei.

Ele me olhou desencantado.

– Está escrito?

– Se não estiver, ele vai escrever algum dia – respondi. – Será um de seus labirintos.

Difícil não se ver com um tímido sorriso ao ler esse trecho. Muitas vezes, em nossas admirações dos gigantes, podemos esquecer que eles não viveram sozinhos suas aventuras que depois se tornariam contos, filmes, pinturas, poesias. Puxa, imaginar García Márquez na companhia de Neruda em uma tarde na Espanha, em meio a sestas e a conversas que falam de Jorge Luis Borges como mais um colega de letras!

Perceber que essas pessoas não deixam de ser comuns apesar da fama é algo que pode exigir um pouco de esforço. Por isso, pra mim, frequentemente vem a surpresa quando vejo fotos dos célebres em companhia de outros célebres. Estão ali, se divertindo e aproveitando a companhia um do outro, como nós mesmos fazemos com nossos próprios amigos desse lado de cá da notoriedade.

Então, pra seguir se surpreendendo, estão aí algumas imagens que mostram justamente esse tipo de camaradagem que, muitas vezes, podemos esquecer que podem existir entre aqueles que vivem sob os holofotes.