Sobre nomes musicais

On 10 de setembro de 2012 by Max Valarezo

O rock, quando nasceu, tinha mania de método científico.

Não digo isso apenas porque toda canção seguia sistematicamente a velha estrutura de acordes do blues (tônica-quarta-tônica-quinta-quarta-tônica), mas também pela escolha dos nomes das bandas. Funcionava assim, basicamente:

Alcunha do sujeito líder + Apelido pro resto do grupo = Nome da Banda

E assim tivemos Bill Haley & His Comets, Buddy Holly & The Crickets, Frankie Lymon & The Teenagers, além dos nossos próprios Renato e Seus Bluecaps. Teve banda que acabou achando essa história toda muito batida e mudou o nome depois, como é o caso de Long John & The Silver Beetles.

Mas, se não me engano, eis que veio decreto imperial de Elvis, que deixava claro: “passa a ser proibida agora essa mania de gente quadrada; que os músicos escolham melhores epítetos pras respectivas patotas”. Sendo lei a palavra do rei, se tornou mais rica a fauna de nomes de bandas, pra felicidade da galera.

“Vamo parar com essa merda”

Hoje tem estilo musical que praticamente dita como devem se chamar as bandas que o adotam. Parece-me muito apropriado, por exemplo, que uma banda de trash metal escolha um nome voltado para o macabro e o tenebroso, como é o caso do Sepultura e do Cannibal Corpse (“cadáver canibal”, em tradução super eficiente). Porque é isso que se espera de um rock que adota a sujidade para si: a catinga da deterioração, a poça de suor vinda do som brutalmente espancado para fora da guitarra. É por isso que, se eu tivesse uma banda de trash metal, a chamaria de Sovaco Eslovaco.

Mas já me deparei mais de uma vez com grupos que adotaram nomes enganosos e não condizentes com o respectivo gênero musical. Se equivoca, por exemplo, quem pensa que Divisor e Consciente é uma dupla de rappers com senso de humor duvidoso. Nada disso. Na verdade, é uma dupla sertaneja com senso de humor questionável. Tem também os caras do Emerson, Lake & Palmer, cujo nome lembra o de alguma banda folk, dessas que entoam belos arranjos vocais ao som do violão (como Crosby, Stills & Nash). Mas você escuta o som deles e descobre  um rock progressivo feito pra se ouvir numa nave espacial enquanto se viaja pela galáxia fumando páginas de um livro do Lovecraft.

E, ironicamente, tem o Grateful Dead, que soa como se fosse uma lendária banda de trash metal (como a aclamada Sovaco Eslovaco), mas é, na verdade, uma banda de folk rock, com canções cheias de violão e belas harmonias vocais.

Toda a não-brutalidade do Grateful Dead

Tem nome de banda que causa tanto estranhamento que te faz não querer ouvir o som dos caras, numa espécie de impedimento auditivo. É por isso que, até hoje, nunca passei perto de qualquer canção do Batom na Cueca (tenho aversão à sonoridade dessa última palavra). Outro exemplo é o caso do Oingo Boingo. Na minha mente, esse nome de marca de trampolim só podia ser presságio para uma experiência sonora frustrante. E sim, eu sabia que esse era o grupo do incrível compositor de trilhas sonoras Danny Elfman, mas isso não havia sido suficiente pra atiçar minha curiosidade. Até que um dia descobri que é deles aquela música legal que toca de vez em quando na Antena Um.

E, claro, há os nomes que entram na sua vida em cedos estágios e você, com ouvido de criança, entende-os da forma errada. Lembro claramente o espanto quando entendi que Spice Girls não significava “Garotas do Espaço”, mas sim algo como “Garotas Tempero”. Ou então quando percebi que o nome AC/DC não poderia significar “Antes de Cristo/ Depois de Cristo”. Pra mim, fazia sentido a conotação religiosa. Parecia uma brincadeira irônica por parte da banda, que sempre cantava sobre uma estrada pro Inferno e cujo guitarrista usava os chifres do tinhoso frequentemente. Nada a ver. É apenas a sigla para os termos elétricos em inglês “alternating current/ direct current”.

E eu aqui achando que o rock tinha se afastado desse negócio de ciência.

2 Responses to “Sobre nomes musicais”

  • Thaís Rosa

    Essa do Space Girls foi ótima, hahaha. Mas como eu pensava que “Who let the dogs out” era “Muleque Johnson”, não posso falar nada. Ótimo blog 😀

  • Laura Tizzo

    Adorei o nome da sua banda de trash metal imaginária!

    Quem nunca ficou se indagando sobre essas nomes de bandas de rock quando parou pra pensar o que significava Red Hot Chilli Peppers?

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