Os seis livros de 2012
O ano novo nunca foi lá meu período favorito, não costumo me empolgar muito com a mudança de ano. Mas apesar de nunca ter realmente feito resoluções de ano novo, no 31 de dezembro de 2011 pensei que não faria mal tentar estabelecer uma meta apenas e me esforçar para cumpri-la.
A tarefa designada foi ler mais livros e posso dizer, felizmente, que consegui manter minha palavra. No fim de 2012, percebi que consegui manter uma média de um livro por mês, um pouco mais até. Vou conseguir manter o ritmo em 2013? Não sei, realmente espero que sim e não pretendo deixar que isso mude. Sei que com o tempo a gente fica cada vez mais ocupado e é provável que daqui a alguns anos eu não consiga mais ler no ritmo ideal.
Estas são as seis leituras de que mais gostei no ano passado. São livros que não apenas me distraíram, mas me introduziram a personagens e histórias (reais e fictícios) extremamente interessantes. Alguns até entraram para minha lista de favoritos de todos os tempos, tamanho foi o impacto que o livro teve em mim. E pensar que, não fosse o esforço em ler mais, eu poderia acabar lendo alguma dessas obras só daqui a um ou dois anos. Ou até mesmo nunca, vai saber. Só posso ficar feliz por ter, ao menos uma vez, dado o braço a torcer pra essa história de “resolução de ano novo”.
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
O primeiro livro que li em 2012 era um que já queria ler havia bastante tempo. Afinal, a preocupação em conhecer certos clássicos sempre me persegue, e já sabia que Admirável Mundo Novo se encaixava na categoria.
Engoli o livro em alguns dias enquanto estava de férias com a família. Fiquei impressionado não apenas com a criatividade de Huxley ao criar uma sociedade futurista complexa, com relações sociais distópicas e estruturas políticas que parecem estranhas para nós. Mas o impacto causado pelo livro veio mesmo foi da combinação dessa inventividade com as ideias sobre relações de poder entre pessoas, sobre controle de informação e sobre a oposição entre avanço tecnológico x selvageria atrasada, dentre tantos outros assuntos abordados na trama. Quando terminei a leitura, fiquei com a impressão de que havia começado bem o ano.
(Aliás, obrigado à querida amiga Maria Elisa por ter me emprestado o livro!)
Fama e Anonimato, de Gay Talese
Sabe como é: quando se é estudante de jornalismo, não tem muito como fugir de uma leitura de Gay Talese. Aqui neste livro está o clássico perfil sobre Frank Sinatra (Frank Sinatra está resfriado), que é leitura obrigatória pra todo aluno do meu curso logo no primeiro semestre. Mas me surpreendi com o resto do livro, que é dividido em três partes: uma série de textos sobre Nova York, uma reportagem sobre a construção da ponte Verrazano Narrows, em Nova York, e por fim vários perfis sobre diferentes personagens.
Confesso que achava que a parte sobre a ponte seria um pouco enfadonha, mas é claro que me enganei. Ela é fascinante, com histórias sobre constantes acidentes nas construções e sobre o que faziam os construtores nos fins de semana. E foi interessante ver que alguns dos perfis mais interessantes de Fama e Anonimato não são necessariamente sobre celebridades, como aquele sobre o escritor de obituários do New York Times.
E pensar que alguns meses depois de eu ter terminado de ler o livro eu estaria frente a frente com o próprio Gay Talese, vendo o mestre autografando o meu exemplar de Fama e Anonimato. Mas essa história eu conto outro dia.
Encontro com Rama, de Arthur C. Clarke
Encontro com Rama foi o primeiro livro que li de Arthur C. Clarke, um dos grandes nomes da história da ficção científica. Já citei esse livro em um dos últimos posts aqui no blog, e a história me fascinou principalmente pelo sentimento de deslumbramento com a exploração espacial feita pelos protagonistas. A trama não se apressa em mostrar o que pode ser a gigantesca nave deserta que apareceu no sistema solar, e por isso mesmo eu não conseguia deixar o livro de lado.
No final das contas, entrei em contato com uma bela e extremamente criativa história (dizer que os detalhes científicos listados por Clarke para explicar o funcionamento de Rama são impressionantes não seria suficiente). Fascinação do início ao fim, com a constante dúvida pelos mistérios não desvendados na trama.
E já que agradeci antes, repito aqui o gesto: obrigado à querida Heleni Flessas por ter me dado o livro de presente!
Moab is My Washpot, de Stephen Fry
Sem dúvida, uma das melhores descobertas que fiz em 2012 foi o Stephen Fry. Ele já apareceu por aqui antes, como neste post aqui, neste aqui e na descrição do blog também. No início deste ano, esbarrei com um vídeo com trecho de um podcast gravado por ele sobre linguagem e simplesmente fiquei completamente obcecado por descobrir quem era essa cara. O vídeo em questão é este:
Encontrei outros vídeos muito interessantes dele (como este) e logo comecei a assistir e a pesquisar quem era esse tal de Fry. Bom, ele é um humorista, ator, escritor e apresentador de TV britânico. Mas descobri que ele é considerado um homem extremamente inteligente, e logo acabei dando de cara com o programa de comédia que o tornou conhecido, A Bit of Fry & Laurie (protagonizado por ele e por Hugh Laurie, o House da série de televisão).
Então comecei a ler e assistir a tudo o que eu podia encontrar sobre o Stephen na internet e logo descobri que ele tem vários livros publicados. Dei a sorte de descobrir que um colega de trabalho da minha mãe iria visitar a família na Inglaterra e pedi para ele me trazer os dois volumes da autobiografia do Sr. Fry (nenhuma obra dele foi traduzida para o português até agora). E o primeiro livro é esse Moab is My Washpot, no qual ele relata as memórias dos primeiros 20 anos de vida.
É um relato muito cativante. Ao ler, você descobre como era a figura jovem do britânico: homossexual, judeu, bipolar e criminoso. São relatos íntimos e que traduzem muito bem a personalidade por trás desse homem que mais tarde viria a ser uma das figuras mais conhecidas do Reino Unido. Ainda me falta ler o segundo volume, The Fry Chronicles, que narra a vida de Stephen Fry dos 20 aos 40 anos.
Hoje, tenho esse cara como uma das pessoas que mais admiro. É o único que você vai achar no “Pessoas que lhe inspiram” no meu Facebook, a propósito. Mas não pretendo falar dessa admiração agora, talvez em um outro dia.
Depois ainda consegui que me trouxessem o primeiro romance dele, The Liar, mas ainda me falta ler esse também. Mais provável que acabe comprando todos os livros dele, pouco a pouco, e leve um bom tempo para ler tudo.
Alguém aí está a caminho da Inglaterra?
Como a Geração Sexo, Drogas e Rock n’ Roll Salvou Hollywood, de Peter Biskind
Esse livro-reportagem foi minha única ocupação durante o dia na minha última viagem, em dezembro do ano passado. Passava o tempo inteiro com ele nas mãos, fosse na praia ou no apartamento. O resultado de tê-lo comigo o tempo todo e não ter conexão com a internet foi ter devorado o exemplar em poucos dias.
Foi uma excelente leitura porque conta com riqueza de detalhes e de personagens os bastidores da Hollywood da década de 70. Biskind retrata as produções dos filmes de grandes cineastas, como Coppola, Scorsese e Spielberg. Mas foi excelente também porque me introduziu a outros diretores de quem nunca havia ouvido falar, como Hal Ashby, Warren Beatty e Peter Bogdanovich, dentre outros.
É daqueles livros que te deixa em uma dúvida cruel: ou você larga pra ir ver os filmes dos quais ele tanto fala e entender direitinho a história toda ou simplesmente seguir adiante com a leitura. No meu caso, fui pela segunda opção, mas, assim que terminei, já fiz uma lista com os principais filmes retratados no relato de Biskind que ainda não vi.
Agora só falta arranjar tempo para ver esses mais de trinta longa-metragens.
Ender’s Game, de Orson Scott Card
Mais uma ficção científica. Mas, ao mesmo tempo, passa longe de ser apenas mais uma ficção científica.
O exemplar que li é em inglês (apesar de já existir tradução para o português: O Jogo do Exterminador) e quem me deu foi minha tia, que já tinha outra cópia do livro. Ender’s Game é considerado um dos livros mais importantes do gênero dos últimos trinta anos e, por isso, comecei a leitura com grandes expectativas. E confesso que, até a metade do livro, estava gostando, mas não achava que era algo que merecesse tanto mérito assim.
Mas, do meio para o fim, a história do garoto-gênio da estratégia militar espacial deixa de ser apenas uma trama sobre treinamentos e combates e passa a ser um retrato psicológico profundo dos protagonistas. E vai além, pois, nas últimas 80 páginas, o livro ganha cada vez mais profundidade de significados e leituras interessantíssimas sobre a mentalidade humana, sobre a guerra e, acima de tudo, sobre redenção.
Em poucas páginas, Ender’s Game foi de “um livro muito bacana de ficção científica” para “um dos meus livros preferidos”. Agora já posso ficar devidamente preocupado com a adaptação para o cinema que Hollywood está produzindo da história.
Max adoro seu blog! Ele é uma inspiração pra mim 🙂